quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O Norte e as Ciências Aeronáuticas

Agora que o PM já conseguiu ver os aviões do Brasil em Évora, talvez seja melhor olhar para outras realidades. E aí parece que o tal "povo trabalhador do Norte" foi um pouco contagiado com a febre do vai à frente e abrandou o andamento.

Será outra versão da fábula A Lebre e a Tartaruga ?

Transcrição do artigo de opinião do Público de 2008.08.06 :




Ciências aeronáuticas no Porto

J. A. Sousa Monteiro - 20080806

Assistimos a um declínio no Norte, que se transformou na região portuguesa com menor riqueza por habitante Foi criado no Porto neste ano lectivo 2008/09, após luz verde do actual Governo, um curso em Ciências Aeronáuticas. Se as forças vivas regionais acolitarem a iniciativa, isto colocará a região norte ao nível europeu no tocante a este sector.

No Norte e na Galiza sente-se muito a falta do ensino graduado e pós-graduado na área do saber relacionada com a aviação civil. Neste sentido, e na ambição de colmatar tão grave deficiência, a Universidade Lusófona do Porto instituiu nesta cidade este curso que contará com três ramos: licenciatura em Piloto de Linha Aérea, em parceria com a Escola de Pilotos Nortávia; licenciatura em Gestão de Operações de Voo; e licenciatura em Gestão de Transporte Aéreo. Os cursos decorrerão segundo o modelo de Bolonha, completando-se qualquer deles em três anos.

Hoje assiste-se a um declínio no Norte, que o transformou na região portuguesa com menor riqueza por habitante. Certas discussões públicas por parte de alguns responsáveis políticos nortenhos são autênticas peças de "entretém povinho", que vão deixando passar em claro outros "golpes" que revelam nítidos esquecimentos da região. Segundo o INE (Contas Regionais), entre 2000 e 2005 o PIB cresceu 18% no Norte, 23% no Centro, 23% em Lisboa, 22% no Alentejo. No mesmo período, as regiões que criaram mais emprego foram Algarve (15,9%), Açores (6,7%), Alentejo (4,8%), Madeira (3,6%) e Lisboa (2,5%), tendo a região norte registado uma redução de 0,3%. A acompanhar toda esta desgraça, o investimento por empregado no Norte em 2005 foi o menor do país.

Enquanto os políticos nortenhos discutem o sexo dos anjos, os da Madeira passam-lhes a perna em termos de criação de riqueza. E até já o Alentejo e Trás-os-Montes conseguiram esta mesma proeza, impensável há anos.

Ressalta a convicção da absoluta necessidade de um plano de desenvolvimento abrangente, envolvendo investidores locais e estrangeiros, sobretudo espanhóis. Por exemplo: uma ligação à Galiza, no chamado "espaço de crescimento/desenvolvimento do arco atlântico", área vasta e diversificada, de elevada identidade política e cultural, a qual deveria ser impulsionada pelo trabalho político de ambos os países. E ainda a aglutinação nesse plano de um casamento entre universidades e empresas. E a envolvência dos municípios da região.

Por tudo isto, a Universidade Lusófona do Porto decidiu dar um contributo para defender a região norte e a cidade do Porto e envolvendo a Galiza, lançando mão de um importante investimento através da criação de um curso em Ciências Aeronáuticas. Desta forma irmanará o Porto, a região norte e a própria Galiza num projecto importante e em grande expansão como é o sector da aviação civil, aeroportos, transporte aéreo, indústria aeronáutica, etc. Se for compreendida e acolhida com boa vontade, esta iniciativa alcançará o sucesso e poderá dar o seu contributo para o desenvolvimento regional.

Director da Escola de Ciências Aeronáuticas da Universidade Lusófona (sousamonteiro@ulusofona.pt)

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