quinta-feira, 15 de maio de 2014

"EXTREMOZ" odeia o Caminho de Ferro

Através da Webrails tomámos conhecimento desta carta aberta que reproduzimos com a devida vénia.

Qualquer comentário acerca da matéria da mesma em atenção à autarquia é absolutamente desnecessário pois, a ser feito, ter-se-ia que usar uma linguagem tal que poderia ofender terceiros ao ler o mesmo, embora tenhamos a certeza que não ofenderia os visados dado o seu jaez.


Exmo. Sr. Presidente da Camara Municipal de Estremoz,
Numa época em que se celebra, entre outros, a conquista do direito à liberdade de expressão, aproveito para me dirigir a Vossa Excelência, ainda que com consciência de que tal direito nunca foi tão inútil ou não soubesse eu de antemão que o conteúdo desta carta em nada vai alterar ou sensibilizar quem nos governa.
Como cidadão nortenho, faço esporadicamente com a minha família ferias no Algarve. Procuro sempre viajar por estradas secundárias a fim de tomar contacto real com o nosso Pais. Fico sempre sensibilizado por ver diversas atividades que por um motivo ou outro foram abandonadas, sendo que muitas delas apenas por não encontrarem alguém, que a devida altura, as guiasse com um rumo certo.
Nesta viagem visitei Estremoz e fiquei com um nó no estomago ao ver que uma avenida, duas rotundas e uma central de camionagem, que mais parece um WC publico, ocuparam o espaço que ainda há pouco tempo pertencia à Rede Ferroviária Nacional. Património esse que não pertence a uma ou outra pessoa, ao município de Estremoz, ou sequer à REFER. Pertence sim aos Portugueses que noutros tempos consentiram que dinheiro dos seus impostos fossem aplicados na construção de vias de comunicação que revolucionaram a economia e a coesão nacional.
Actos como este, de destruição de património histórico que pertence a todos os Portugueses, e que infelizmente são comuns em vários pontos do Pais, são vistos pelos portugueses como um total desrespeito pela sua historia e pelos seus antepassados, quanto mais, como neste caso, quando em nada contribuem para o progresso da nação (e basta olhar para a planta de Estremoz para verificar que esta avenida não faz nem fazia qualquer falta ao bom funcionamento do transito).
É para mim inacreditável que em pleno seculo XXI se continuem a cometer erros desta magnitude e custa-me ver que pessoas como Vossa Excelência que tem o dever de lutar para que o comboio regresse a Estremoz, tenha cometido tal acto de vandalismo. Ainda mais agora, que Évora tem via férrea eletrificada e com ligação a Lisboa em menos de 1:30h. É verdade, Estremoz, com o mesmo dinheiro que foi gasto na construção da avenida, rotundas e terminal rodoviário (que podia e devia ser no mesmo edifício da estação), poderia ter uma ligação ferroviária a Lisboa em menos de 2 horas.
É com este desrespeito pela história e pelas pessoas da sua terra que pretende que Estremoz seja considerado património Mundial?
No nosso Pais, os presidentes de Camara destroem património histórico centenário apenas para fazerem “o bonito” para os seus votantes e terem uma placa numa avenida com o seu nome. Independentemente de isso trazer ou não uma mais valia para a economia da nação.
No nosso País, os sindicatos dos ferroviários estão mais preocupados em conseguir conquistar melhores salários e menos horas de trabalho do que em defender o mais básico direito dos seus associados, o direito ao trabalho. E ainda não repararam que hoje o caminho de ferro conta com quase menos 10.000 trabalhadores que há 50 anos.
No nosso Pais, os governantes de topo, preocupam-se em promover o transporte rodoviário que apenas funciona na base da importação, quer de asfaltos, quer de veículos, quer de combustíveis, em vez de promoverem um transporte ferroviário, capaz de funcionar com menos dependência de importações e com mais recursos nacionais ao mesmo tempo que promove a criação de postos de trabalho sustentáveis.
No nosso Pais, a REFER, EP, empresa a quem compete, entre outros, a conservação e manutenção da infraestrutura ferroviária, não só abandona sistematicamente o património que lhe foi confiado por nós Portugueses, como autoriza, em nosso nome, que em cima deste, sejam construídas estradas.  Por certo será por isso que se fala pelos dias de hoje da fusão da REFER, EP com as ESTRADAS DE PORTUGAL, EP.
Cada vez mais desiludido com quem tem por obrigação melhorar Portugal,
Hugo Guimarães