sábado, 20 de dezembro de 2008

O Douro e a Incompetência Política dos Politiqueiros da nossa Praça

Em artigo de opinião publicado no Público de 2008.12.20 fala-se de novo nos erros de lesa majestade em seu tempo cometidos e a perca de uso da oportunidade face ao eterno DEIXA ANDAR dos responsáveis políticos em Portugal.

Coma a devida vénia a seguir transcreve-se o texto:



O Douro, o vinho do Porto e o comboio

Alberto Aroso - 20081220

Fazer a exploração da Linha do Douro com comboios velhos e desadequados ao serviço turístico é um erro estratégicoOs vinhedos e o comboio são parte integrante da riqueza turística do Alto Douro Vinhateiro e reflectem bem o árduo trabalho que foi necessário para os concretizar.

Nesse sentido, imaginar o vale do Douro sem o comboio é o mesmo que o imaginar sem o vinho do Porto.

No entanto, em 18/10/1988 e na sequência da suspensão das circulações ferroviárias do lado espanhol em 1/1/1985, as canetas da burocracia e da mediocridade ditaram o encerramento do mais belo troço da Linha do Douro.

Com a elevação a Património da Humanidade, o Alto Douro Vinhateiro ganhou uma oportunidade única para o desenvolvimento do turismo, nomeadamente na vertente do Touring Cultural e Paisagístico.

Mais recentemente, com o forte crescimento da utilização da via navegável do Douro, verificou-se a necessidade óbvia da interoperabilidade entre ambos os modos de transporte.

Todavia, a mesma não é possível em toda a extensão do vale do Douro, já que a circulação ferroviária entre o Pocinho e Barca d'Alva está suspensa.

A Linha do Douro permite estabelecer a ligação entre quatro locais distinguidos pela UNESCO - Porto, Alto Douro Vinhateiro, Gravuras do Côa e Salamanca - pelo que não aproveitar esta ligação é um erro estratégico.

Tal como o é actualmente fazer-se a exploração da linha com recurso a material circulante velho e totalmente desadequado ao serviço turístico.

Existindo um mercado de enorme potencial no centro de Espanha, incluindo ainda todo aquele que irá ter acesso a Salamanca por via do AVE, a reabertura da linha é decisiva para o desenvolvimento do turismo no Douro.

Já hoje, um significativo número de espanhóis desloca-se ao Pocinho, para aí apanhar o comboio com o objectivo de percorrer o vale do Douro.

Com a reabertura ao tráfego internacional, além de a Linha do Douro ficar equilibrada entre dois importantes pólos geradores de tráfego, seria possível segregar o tráfego regional do tráfego turístico, o qual passaria a ser garantido por comboios panorâmicos devidamente adaptados. Desta forma, seria possível oferecer um serviço turístico de qualidade, mais cómodo e rápido, na medida em que a totalidade dos custos de exploração poderia ser incorporada na respectiva tarifa.

Mas não só o turismo é o argumento de peso na reabertura do tráfego internacional pela Linha do Douro, porquanto o tráfego ferroviário de mercadorias também o é, na medida em que permite uma ligação directa do Porto de Leixões ao centro de Espanha, representando 200 km de distância até à fronteira contra os actuais 310 km pela Linha da Beira Alta.

Por último, num acto inédito e de louvar, 28 municípios uniram-se em prol do projecto de reabertura da linha que, embora já peque por tardio, ainda irá a tempo de potenciar o desenvolvimento turístico de toda a região do Douro, esperando-se agora que não seja esta mais uma oportunidade perdida, por via da mediocridade daqueles que nem sabem onde fica Barca d'Alva.

Engenheiro civil