a leitura do texto que a seguir se transcreve do jornal Público, do dia 6 de Dezembro de 2009:
A situação de Ana Paula Vitorino com caso "Face Oculta"
Os 'Xico-espertos' ganham terreno em Portugal
A não nomeação de Ana Paula Vitorino para ministra e a sua situação pós caso "Face oculta" levam o colunista a concluir que José Sócrates reserva a ex-secretária de Estado dos transportes para o futuro.
Com o País a abarrotar de problemas, enquanto uma grande maioria não tem tempo para os enfrentar e a outra não tem competência para interpretar o que se passa à sua volta, para um restrito número de privilegiados sobram as oportunidades para colocar em prática a tradução literal de "expertise" e "expert" em "esperteza saloia" e em "xico-esperto". A fórmula bem portuguesa do desenrasque dos "peritos" é um conto de fadas quando comparado com os esquemas maquiavélicos, próximos do mafioso, como alguns controlam o acesso aos poderes.
Enquanto para o "Zé" coisas como o caso "Face Oculta" e o cenário de sucatas são uma repugnante novidade, para mim essa é a nojenta realidade (a estória é um filme já visto na história do Freeport), que bem conheço da segunda e terceira linha dos cogumelos que se aproximam do poder político. Não sei, nem me interessa o que disse e quem disse a quem. Isso vai ficar esbatido e reduzido a nada na barra dos tribunais. Assusta-me é saber quais as intenções (mais ou menos divulgadas) de quem tem acesso ao poder através do formato "arrota-euros" e com financiamentos e esbanjamentos de penicos de dinheiro fácil, tentam assaltar a dignidade de eleitos que lhes estorvam, por não se sentirem intimidados e por não cederem às trapaças que urde, optando então para tentar controlar os decisores e pressionar as cúpulas partidárias para que tenha uma palavra a dizer nas nomeações de cargos de confiança política. Face à sujidade dos comportamentos, quase me permito sugerir a criação de "formação" de candidatos a "amigos especiais" dos partidos, ao mesmo tempo que se devem "polir" os angariadores de fundos para as tesourarias partidárias. A ignorância e o analfabetismo preocupam-me, assustam-me quando tem como protagonistas quem tem a intenção de encontrar facilidades e vai acreditando nos filmes que o seu "amigo" mediador lhe vende, mas que no essencial está a ser vítima de extorsão em crescendo.
Acreditando na potencial vocação de quem vêem como porteiro para as causas maquiavélicas, os Xico-espertos tentam implementar à escala rasteira aquilo que as grandes companhias fazem com políticos (antigos governantes), pagos a peso de ouro, para a função de porteiro das causas difíceis. É a história do Q.I, (Quem Indica, Quem Influencia, Quem Informa, Quem Indaga, Quem Interessa e Quem Introduz), no seu pior.
A propósito do extenso poder financeiro de uma larguíssima meia dúzia de pessoas, com limitado espaço cerebral, e uma desmedida ambição, o que me preocupa verdadeiramente, pois encerra em si riscos de um elevado nível de acesso ao poder, é o perigo de controlo de um ramo sectorial sobre as decisões políticas para a sua área de negócio.
Nova equipa ministerial
Quando a complexidade do mercado de transportes e das obras públicas exige arte e engenho, vejo a nova equipa ministerial dos transportes e obras públicas como um enigma. Do ministro António Ascensão Mendonça é conhecida uma bem sucedida vida académica e a participação num Manifesto a favor das grandes obras públicas, em contraponto com um outro que se opunha a opções políticas para investimento da década (novo aeroporto de Alcochete e TGV, entre outros).
Do secretário de Estado dos transportes, Carlos Correia da Fonseca acompanhei o seu trabalho no jornal "Transporte Público", onde com uma cuidada escrita expressava argumentos e sugestões demasiado doces para a realidade, o que me levou a identificar o jornal como o órgão oficial do regime para o sector.
Com um ministério algo enfraquecido, o papel de líder do Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMTT) assume-se como fundamental, pelo que será imperioso que Crisóstomo Teixeira aceite manter-se por mais algum tempo em funções, para ajudar a consolidar e a dignificar o papel do ministério.
Como é sabido, ao longo da anterior legislatura fui formulando a opinião de que a futura ministra do sector de transportes de um novo Governo rosa/rosado ou de uma renovação de pastas, seria Ana Paula Vitorino. É uma inteligente quadro técnico dentro da estrutura do Partido Socialista, que soube ganhar a confiança dos transportadores e não lhe são conhecidas funções como porteira em empresas ou em lobbies de interesses. Mas como, apesar das evidências, a sua nomeação não aconteceu, fico preocupado com o que se soube acerca de hipotéticas conversas escutadas no âmbito do processo "Face Oculta". Preocupa-me qualquer hipótese de não ter sido escolhida por ter a coragem de enfrentar os interesses rasteiros. A honestidade e a sinceridade da anterior Secretária de Estado dos Transportes podem ter-lhe custado a, mais do que justa, nomeação como ministra do sector. Ficamos todos a perder.
Ana Paula Vitorino, na qualidade de candidata nas últimas eleições legislativas pelo círculo eleitoral do Porto, teve a coragem de dizer, numa entrevista ao "Jornal de Notícias", que a questão de introdução de portagens nas Scut carecia de uma nova apreciação dos factores de aplicabilidade das mesmas.
Não acredito que as bocas, sobre supostas pressões de sucateiros intelectuais, tenham tido alguma força. Acredito mais que José Sócrates resguardou Ana Paula Vitorino (como reserva e trunfo) para que a curto/médio prazo, depois de rebentarem os conflitos à volta das portagens nas Scut, a deputada venha a assumir a função. O País não pode desperdiçar a mais-valia que representa o excelente relacionamento de Ana Paula Vitorino com toda a cadeia de transportes e de um modo especial com os rodoviários.
A mentira das inspecção das pontes
Nesta vida nada é inocente. Considero uma lamentável falta de respeito para com os cidadãos, próximo de um crime público - por ser um potencial gerador de pânico -, o pretenso alarme lançado à volta da falta de inspecção às infra-estruturas viárias, nomeadamente a obras de arte (pontes, viadutos.). Supostamente, como nos fizeram crer (não se sabe quem), a Estradas de Portugal estaria impedida de concretizar vistorias e inspecções correntes a equipamentos e a fundações de obras exigentes, por falta de fundos.
Prontamente desmentida a questão do perigo de derrocada de uma qualquer infra-estrutura, especialmente no IP3 (Coimbra/Viseu), percebemos que prevalecia a "preocupação" de manter viva a mensagem da falta de verbas nas contas da empresa que gere as estradas do Estado.
Este lamentável exercício, sem rosto, esconde o objectivo sujo e rasteiro de nos tentarem vender os argumentos, fundamentos e razões para a implementação de portagens nas Estradas do Estado (apelidadas, por razões de marketing político, como SCUT - Sem Custos para os Utilizadores).
Não façam de mim parvo. Senhores maquiavélicos da política acordem, por que o povo não é estúpido e já não come todas as petas e tretas que lhe querem vender. Por vezes, anda é muito distraído.
Basta de mentiras. Parem com os jogos baixos para justificar a incompetência para a gestão da coisa pública. Serei implacável na denúncia da mentira.
Luís Abrunhosa Branco
(Membro da Associação Mundial de Editores de Transportes)
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